segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Homilia... XXXIII Tempo Comum - B

Caríssimos cristãos,

Estamos a chegar ao final do ano litúrgico, que se concluirá no próximo domingo. Por isso, a liturgia evoca os grandes temas do “final dos tempos”. Contudo, o grande convite de hoje é o da esperança. Convida-nos a confiar nesse Deus libertador, Senhor da história, que tem um projecto de vida definitiva para os homens.

Em ano dedicado ao acolhimento da Palavra e também em ano sacerdotal somos convidados a acolhermos a Palavra na fidelidade a Cristo. E é essa mesma Palavra que escutamos no evangelho, aquela que “não passará”, mas sim que permanecerá e aquela que encontramos, acolhemos e vivemos. Ou seja, uma vez que nos encontramos aqui reunidos é sinal de que abrimos a porta do nosso coração para comungar da Sua Palavra e do Seu corpo.

As Leituras bíblicas, numa linguagem apocalíptica, estimulam-nos a descobrir, os sinais desse mundo novo, que está nascendo das cinzas do reino do mal. O Evangelho de hoje utiliza uma linguagem um pouco estranha para nós. Esta linguagem apocalíptica é um modo alternativo de falar, bem compreendido pelo povo de então.

- Usa-se imagens fortes e misteriosas, cheias de elementos simbólicos…

- Mas o importante não são as imagens, mas o conteúdo que querem revelar.

- Não pretende adivinhar o futuro, mas falar da realidade actual do povo.

- Não pretende assustar, mas animar o povo em momentos difíceis.

Na época em que Marcos escreveu o seu evangelho, as comunidades cristãs estavam agitadas e assustadas por causa de guerras e calamidades, como a destruição do templo, no ano 70 dC. Para tranquilizar os cristãos, o autor usa uma linguagem apocalíptica, descrevendo a catástrofe do sol e das estrelas e o aparecimento do Filho do homem sobre as nuvens para julgar os bons e os maus.

Esse "Discurso escatológico" de Cristo é o último antes da Paixão. Jesus anuncia a destruição de Jerusalém e o começo de uma nova era, com a sua vinda gloriosa após a ressurreição. Os cristãos não se devem preocupar com a data do fim do mundo. O verdadeiro problema é outro: trata-se de saber como é que os discípulos, como é que nós, cristãos, devemos viver, hoje, neste mundo.

Estamos perante uma catequese sobre o fim dos tempos. A intenção não era assustar, mas conduzir a comunidade a discernir os factos “catastróficos” e o futuro da comunidade cristã dentro da história. Não deviam ver como o fim do mundo, mas o início de um mundo novo.


Todos aqueles fenómenos, passageiros e naturais revelam que somente o Filho do Homem, Cristo e as Suas Palavras, permanecem para sempre. Vede como todos se assustam perante o conteúdo de um filme recente intitulado “2012”, mediante o qual as pessoas acreditam numa ficção sem olharem para a realidade presente. Segundo o filme algo está para acontecer de grave à humanidade indo de encontro àquilo que muitos iluminados têm vindo a prever. Jesus apresenta-nos uma visão totalmente diferente da história, pois, segundo Ele, Deus é criador e se cria é porque ama. Por isso, todos nós, como criaturas amadas e queridas por Deus, devemos criar na história um espaço concreto para o amor, que é a base de toda a relação humana. A maior destruição que pode acontecer é a ausência de fé no Filho do Homem, a falta de amor humano, a destruição dos recursos ecológicos, as guerras e a pobreza, que o homem vai criando em cada tempo.

Por isso, este tempo que vivemos na actualidade é o tempo próprio para não termos medo, é o tempo para construirmos o reino de Deus na terra onde germina a fé, a esperança e a caridade. Isto depende de nós.

Estimados irmãos, terminamos hoje a semana de oração pelos Seminários. Como é do conhecimento de todos essa instituição importantíssima para todos nós cristãos. É, por sua natureza e missão, lugar de escuta da Palavra de Deus, que chama e envia, que convoca e compromete, a todos a e cada um. Ele é uma escola, uma “escola do dom de Deus” tal como afirmou o nosso Arcebispo, D. Jorge Ortiga, na sua mensagem para esta semana de oração pelos Seminários, convidando ainda os jovens, caso sintam o apelo do Senhor, a “saborearem este dom maravilhoso que é Deus”. Como família que é, o Seminário é um tempo de crescimento, em família, em ordem ao amadurecimento vocacional.

Irmãos caríssimos, todos nós temos de continuar a lançar a semente no coração das pessoas, temos que insistir no anúncio e no bom acolhimento da Palavra de Deus… Hoje, é por vós, é por mim, é por meio de cada um de nós, pelas nossas palavras e pelo nosso testemunho, que essa “Palavra que não passa” há-de passar e chegar a quem Deus chama!

Continuemos em oração rezando pelos seminaristas e seus formadores, por aqueles que hão-de ser e pelos que já foram chamados, ao sacerdócio ministerial! Rezai ao Senhor, por todos estes, e também por mim, para que Deus nos conceda a graça de “encontrar sempre a alegria no seu serviço, porque é uma felicidade, duradoira e profunda, ser fiel ao autor de todos os bens” (oração colecta).

Deus está em toda a parte. E passa pelas nossas mãos. Deus é de todos os tempos e conta connosco no nosso lugar. “Nada te perturbe, nada te espante. Quem a Deus tem nada lhe falta. Nada te perturbe, nada te espante, só Deus basta”. (Santa Teresa de Jesus/Ávila)

Diácono PAULO SÁ

15.11.2009

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