terça-feira, 14 de julho de 2009

Homilia.... XV-Tempo Comum, B

Irmãos caríssimos:

Na continuidade das leituras do passado Domingo, o Senhor, fala-nos, hoje, dos profetas. Se, há uma semana, Jesus nos dizia que ninguém é profeta na sua própria terra, hoje, Ele chama e envia os seus doze Apóstolos dois a dois.


Dois amigos

Jesus enviou os seus discípulos dois a dois, isto é, como amigos. De facto, ser discípulo de Cristo é ser amigo e testemunhar a amizade.


Um homem sonhou que estava a subir uma íngreme montanha com o seu cão. Os dois cansados e com muita sede viram a certa altura um portão. O homem perguntou ao vigilante:

- Que lugar é este, tão lindo?

- Isto é o céu.

- Que bom! Podemos beber da fonte?

- Você sim, o seu cão não. É proibida a entrada de animais.

O homem ficou desiludido pois era grande a sede mas não quis beber sozinho deixando o seu fiel amigo com sede e prosseguiu o caminho.

Mais à frente surgiu uma porta mais estreita.

- Bom dia, podemos beber da fonte, eu e o meu cão?

- Sim, bebei à vontade.

- Obrigado! A propósito, como se chama este lugar?

- Céu, respondeu o vigilante.

- Céu?! Mas disseram-nos que o céu era lá atrás.

- Lamento, aquilo era o inferno.

- Mas então, essa informação falsa deve causar grandes confusões.

- De forma nenhuma. Fazem-nos até um grande favor porque lá ficam aqueles que são capazes de abandonar os seus melhores amigos.


Caros cristãos, é por isso mesmo que estamos aqui a celebrar a Sua Vida, é Ele quem nos envia: “Pois, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles” - Mc 18,20.


Vai profetizar ao meu povo de Israel”, disse o Senhor, ao profeta desinstalado e incómodo, que dá pelo nome de Amós. Em resposta a este desafio, neste Domingo, na Sé de Viana do Castelo, o Bispo D. José Pedreira presidiu à celebração de Ordenação Presbiteral, de dois novos Padres, o P.e Jorge Esteves e o P.e Ricardo Esteves.


Ao longo de toda a história da Igreja, sempre houve pessoas que deixaram tudo para seguir a Jesus. Foram discípulos e missionários que abandonaram o conforto de um lar, a segurança de uma pátria e os benefícios de posses materiais. Preferiram viver como peregrinos, dedicar-se a outras pessoas e cumprir sua missão. Houve até grandes movimentos itinerantes, congregações religiosas e grupos de fiéis que largaram suas casas e se puseram a caminho. Cumpriam um mandato fundamental do Cristianismo, ir e anunciar. Ainda hoje existem pessoas e movimentos que mantêm essa mesma prática. Têm como regra de vida o discurso da missão, lido no Evangelho deste domingo.


Jesus reúne os Seus seguidores e envia-os a pregar aos pares. Partem dois a dois, sem levar nada, apenas o bastão e as sandálias isto porque a missão é longa e difícil. As instruções que recebem do Mestre são de simplicidade absoluta, pois concerteza que todos bem sabemos que a eficácia de uma missão não depende da abundância de meios materiais.

Os seguidores de Jesus divulgam o Evangelho com liberdade profética. Por isso, já o profeta Amós, (por volta do ano 750 a.C.), conforme a primeira leitura deste domingo, praticava sua missão profética em favor da justiça e da verdade. Amós profetizou numa época de prosperidade em Israel, mas também de grande contraste entre ricos e pobres. Este profeta sai de sua terra natal, em Judá, e parte para o norte, onde denuncia as injustiças praticadas contra os pobres e decreta a morte do rei. Em contrapartida, Amasias, sacerdote funcionário do rei, o acusa de conspiração contra o Estado e tenta expulsá-lo do santuário real. Decreta: “Vai-te daqui, vidente. Foge para a terra de Judá. Aí ganharás o pão com as tuas profecias”. Mas Amós finca o pé: “Eu não era profeta, nem filho de profeta. Era pastor de gado e cultivava sicómoros. Foi o Senhor que me tirou da guarda do rebanho e me disse: ‘Vai profetizar ao meu povo de Israel’”. Amós deixa claro que não fazia parte de nenhum grupo de profetas profissionais e que não dependia disso para sobreviver. Tinha sua profissão com a qual ganhava muito bem a vida. Mas o Senhor o arrancara do seu rebanho para ser profeta, defender o direito das pessoas importunadas e denunciar as injustiças dos grandes. Ah!... Como faz falta um Amós nos dias de hoje!...


Jesus coloca-se na linha de Amós e dos grandes profetas de Israel. Propõe um Reino de paz e de justiça, com novas relações baseadas no amor e na misericórdia. “Ele chamou os doze Apóstolos e começou a enviá-los dois a dois. Deu-lhes poder sobre os espíritos impuros”. Marcos já dissera anteriormente (3,13-19) que Jesus havia chamado “quem ele quis” e constituiu os doze, com três finalidades específicas. A primeira era para ficar com ele, a segunda para anunciar a boa nova, e a terceira para expulsar os demónios. Aqui retorna o relato do chamamento e envio. Jesus chama de acordo com a liberalidade do seu coração, não segundo as capacidades das pessoas. A origem do chamamento está em Deus: o critério da escolha é um mistério... E o fundamento da missão é Jesus, não os projectos pessoais de cada qual. As pessoas são escolhidas para continuar o projecto de Deus, implantado por Jesus, não os projectos humanos, propostos por quem quer que seja.


Também S. Paulo no hino aos Efésios, proclamado na segunda leitura, coloca-nos no contexto global deste mistério da salvação, no qual somos chamados à santidade, em Cristo Jesus, para a glória de Deus Pai. O Apóstolo expõe, em forma de bênção e com grande originalidade, o conteúdo do mistério redentor pelo qual Deus salva todos os Homens, judeus e pagãos, em Cristo e por Cristo. Trata-se de um hino jubiloso a Deus pelo seu plano maravilhoso concentrado em Cristo. Também nós, baptizados, temos como tema do nosso louvor os sentimentos de gratidão por todas as bênçãos com que Deus continuamente nos abençoa.


Caros amigos, numa época em que tanto se busca as “forças ocultas”, não deixa de ser curioso que é precisamente esta a primeira missão dos discípulos: afastar os espíritos impuros! Proteger o povo de tudo aquilo que o escraviza, que destrói a sua vida e a sua felicidade, de tudo o que o afasta de Deus. Onde existe Deus, não há lugar para espíritos vazios e assustadores. Ele sim, é a nossa segurança e a nossa certeza, nunca estamos sós… A exemplo de Jesus, a missão tem resultados terapêuticos, pois os discípulos “expulsaram muitos demónios, ungiram com óleo muitos doentes e curaram-nos”.


Neste sentido, inseridos na dinâmica da Palavra de Deus, continuemos a dar-lhe graças pelo dom da vida, colocando no altar tudo aquilo que somos, os nossos sonhos e anseios, as nossas alegrias e tristezas, como oferenda agradável a Deus.



Diácono PAULO SÁ

12.07.2009