quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Homilia... XXX Tempo Comum - B

XXX Domingo – TC – B

Caríssimos cristãos,

A liturgia da Palavra deste XXX Domingo do Tempo Comum convida-nos a termos confiança em Deus, a abrir os nossos sentidos para acolher livremente a sua Palavra.

Na 1.ª Leitura, Jeremias, o profeta das desgraças, expressa uma mensagem de esperança, alegria e consolação. Afirma que Deus é Pai que perdoa e ama realçando ainda que «os cegos, os coxos, as mulheres grávidas e as que já deram à luz» serão a “grande multidão” do futuro messiânico.
Em pleno Ano Sacerdotal, a 2.ª Leitura apresenta-nos a figura do sacerdote à luz do sacerdócio de Cristo. Ela sublinha a vocação do sacerdote e as suas qualidades: ser solidários (são homens e não anjos); ser intermediários entre Deus e os homens; ter vocação, ou seja, ser chamado por Deus.
A cena do Evangelho deste domingo passa-se em Jericó, uma cidade situada junto ao rio Jordão e separada de Jerusalém por 30 km de deserto. Mais uma vez a iniciativa pertence a Jesus que ao pregar de aldeia em aldeia vai ao encontro das pessoas (Jesus ia a sair de Jericó com os discípulos).
Deixai que me detenha na riqueza espiritual deste Evangelho para a nossa vida. Hoje, ao grupo de Jesus, junta-se um acompanhante muito especial: um mendigo cego, de nome Bartimeu, que está sentado (recordemo-nos que se encontra na mesma posição ansiada por João, Tiago e os outros Dez) na beira do caminho com a sua capa/manto estendido para recolher as esmolas que as pessoas lhe iam deixando, ele encontrava-se de mão estendida à caridade pública.
Bartimeu é sobretudo um modelo de fé, modelo para todos nós cristãos baptizados. Ele não tem vergonha de gritar e reconhecer a sua limitação... Reparemos que ele encontrava-se à beira da estrada e que ele mesmo conhecia as suas deficiências: não podia ver por si mesmo, logo a cura estava fora do seu alcance. Mas, ao ouvir que Jesus estava a passar, uma luz de esperança brilhou…
(“é preciso crer, para ver”…crer é ver para além das evidências e entender a presença e a proximidade de Deus)
E quando se apercebeu que Jesus se aproximava, começou a gritar para superar o barulho de toda aquela gente: «Jesus, Filho de David, tem piedade de mim». Sim, ele gritou porque sendo um pobre cego era, também, um excluído. E Jesus, que foi enviado para anunciar a salvação de Deus aos pobres, ouve-o, melhor, pára (descendo assim ao nível do cego) e manda-o chamar perguntando-lhe o mesmo que fez a João e a Tiago: «Que queres que Eu te faça?» A resposta do cego foi evidente: «Mestre, que eu veja». Então Jesus replicou-lhe: «Vai que a tua fé te salvou». Mas «Vai» não é a resposta adequada ao pedido do cego: «que eu veja!». E aqui está a mensagem que o Senhor quer deixar bem patente: foi a fé suplicante que conseguiu o favor de Deus. Nesse instante o cego recuperou a vista e «seguiu/ia Jesus pelo caminho». (note-se o «seguia» - imperfeito de duração = modelo do discípulo de Jesus)

Vejam-se atentamente alguns confrontos (afirma D. António Couto):
  1. o cego está «sentado», mas põe-se de pé; de pé vão os discípulos de Jesus, mas querem “sentar-se”;
  2. o cego deixa tudo (atira fora o manto), mas os discípulos querem saber o que ganham;
  3. o cego está «à beira do caminho», mas entra no “caminho” para seguir Jesus no “caminho”;
  4. o homem rico de Marcos 10,17-22, que encontrámos no Domingo XXVIII, entra no “caminho”, mas sai logo do “caminho”…
Tantos desafios e provocações, modelos e contra-modelos, para nós, discípulos que hoje seguimos Jesus no caminho.

Jesus ouve o grito do cego Bartimeu e exige logo que o levem à sua presença. A sua chamada não chega directamente ao cego, mas há alguém encarregado de a transmitir. Estes mediadores representam os autênticos seguidores de Cristo, os cristãos sensíveis ao grito de quem procura a luz; são os que dedicam grande parte do seu tempo à escuta dos problemas dos irmãos em dificuldade, têm sempre palavras de encorajamento e de esperança e indicam a todos os “cegos” o caminho que leva ao Mestre.
Caros cristãos, a fé é a luz que ilumina a vida do Homem. Jesus é a luz do mundo, Ele rompe a escuridão e faz que vejamos melhor: dá olhos para ver o que está certo ou errado no mundo. A Palavra que hoje acolhemos é sinal disso mesmo, como qualquer mendigo, Bartimeu desapegou-se da capa que possuía (único bem que o pobre tinha até então).
Deitar fora a capa indica o desapego completo, decidido e radical da condição em que tinha vivido até esse momento. A vida que fazia antes já não lhe interessava mais. Por isso mesmo, precisamos da fé para captar a presença de Deus na história humana, no caminho pessoal de cada um, sobretudo na pessoa de Jesus Cristo, o grande sinal do Pai e o sacramento do encontro do homem com Deus.
A fé é fundamentalmente um acto de confiança em Jesus e na sua pessoa. Pela sua natureza dinâmica e criativa leva à conversão, a uma adesão à pessoa e ao programa de Jesus que conduz necessariamente ao seguimento, como neste caso do cego de Jericó.


Enriquecidos pela esperança que brota da Palavra de Deus, peçamos, por breves momentos de silêncio, a Deus para que acolha na Sua infinita bondade e amor as nossas vidas e nos conceda, um dia, as graças de participarmos da Sua eterna luz. Acolhamos essa Palavra e que ela se oriente para o nosso viver…
Coloquemos também sobre o altar as nossas preces, como acto de solidariedade humana e divina, como quem comunga do mesmo corpo, e peçamos a Deus que nos dê nova luz às nossas vidas e que nunca deixe de “fazer maravilhas em favor do Seu povo” como exprimiu o salmista.


Diácono PAULO SÁ
25.10.2009

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